sábado, 22 de março de 2008

2 anos de língua portuguesa!

[...] Quando cheguei em São Paulo, em 1949, pela primeira vez,
aos seis anos de idade com minha mãe, na Estação da Luz,
Contei os bondes que passavam ininterruptos pela praça em frente e fiquei, menino,
Admirado com a quantidade dos que circulavam abertos, com passageiros,
o cobrador no estribo,
Dos que fechados, Camarões chamados,
continham formas mais compostas,
indistintas e distantes formas guardadas na proximidade de fatos e acontecimentos passados [...]


Poesia de Antonio Cícero publicada no livro “A Cidade e os Livros”, fala de um menino que vem de Ribeirão Preto pela primeira vez a São Paulo e como acontecia com os imigrantes que vinham de trem proveniente do Porto de Santos, o local onde primeiro se pisava era a Estação da Luz.

Estação essa que poderia ser chamada de estação de misturas de línguas, já que lá havia o encontro de imigrantes e nativos trazendo miscigenação dos sotaques, mistura essa que era e continua sendo intensa, pois atualmente a “Luz” recebe sotaques de todas as regiões do país. Não haveria melhor lugar para se implantar o Museu da Língua Portuguesa.

Situado na parte superior da plataforma da “Luz”, prédio inaugurado em 1901 pelos ingleses para levar a produção das lavouras do interior ao porto no período do ciclo do café - funcionava como escritório da companhia férrea, o museu vem cumprir um papel fundamental na cultura do povo, tanto no Brasil quanto em outros lugares onde o português está presente.

A mensagem contida no museu é que essa língua portuguesa que unifica um país do tamanho do Brasil é a forma de expressão de uma cultura rica e diversa que carrega consigo uma mensagem singular em meio ás nações.

Iniciativas como do Museu da Língua Portuguesa enaltece a cultura nacional. Pois as carências do país nesse campo são: falta de conhecimento das pessoas em relação à própria linguagem do país, das obras clássicas produzidas por autores como Guimarães Rosa, dos valores da nossa cultura e da civilização que criamos, e a partir desses conhecimentos podemos ter uma identidade brasileira, impedindo que outros povos e culturas que se sentem superiores interfiram em nossa identidade.

Isso faz com que o povo veja qual o valor da nossa cultura e não se deixe levar pela cultura de terceiros, acreditando no próprio povo brasileiro, e vendo que com essa crença é possível fazer maravilhas.

Em um jogo sensorial mágico, o projeto mostra a antiguidade da língua portuguesa, sua universalidade e mestiçagem de uma forma única, que nunca se viu até então, sendo pioneira na arte de mostrar essa linda língua de uma forma didática, clara e ao mesmo tempo prazerosa e interessante.

Considerado um ponto de encontro entre a língua, literatura e história, o Museu tem uma tecnologia de última geração para distribuir cultura de um modo especial, é a tecnologia usada em pró da cultura, valorizando nossa língua, que é uma das mais faladas no mundo.

Muitos ao ouvir sobre o museu, pensam ser este um lugar tedioso por falar da língua portuguesa, mas ao visitar este lugar dinâmico e interativo vêem que é o contrário, pois o local trata da base da cultura brasileira- língua portuguesa- de maneira sensorial e subjetiva, deixando o passeio suave e cativante.

Português, uma língua tão rica. Esse local nos faz refletir sobre essa riqueza, nos faz conhecer aspectos da nossa cultura embutidos na língua que vemos, falamos e escrevemos, mas que não sabemos e nunca percebemos que há, pois são aspectos ocultos.

A obra é uma realização do Governo do Estado de São Paulo e a Fundação Roberto Marinho, com parcerias de outras empresas e tem como alvo a população brasileira de todas as regiões e faixas sociais.

Uma iniciativa do Estado muito apropriada que dá acesso a informações tão preciosas contidas no museu.

Outra grande preocupação do museu é a de gerar produtos educacionais, como monitorias para escolas e oficinas de capacitação de professores, pois o museu ensina muita coisa, tanto aos alunos quanto aos professores, e esse local pode ser utilizado como fonte de educação diferenciada pelas escolas.

Uma viagem por poesias, poemas e textos que começam no térreo com a Árvore da Língua, que tem suas raízes formadas por palavras e sua folhas por contornos de objetos, possuindo ainda uma espécie de mantra que trabalha com as palavras "língua"e "palavra" em vários idiomas.
Esperamos que depois de uma iniciativa como essa, a língua portuguesa jamais seja esquecida, e que possamos reverter o quadro citado em uma poesia de Olavo Bilac, chamada Língua Portuguesa, que utiliza os termos inculta, desconhecida e obscura referindo-se a nossa língua portuguesa; fazendo com que essa seja entendida e conhecida, não mais obscura e desconhecida, pois a última flor é a língua portuguesa, considerada a última das filhas do latim, a qual não podemos deixar ser esquecida, pois é bela.


Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
[...]


Devemos sim tratar a nossa língua como nos versos de Waldin de Lima em Soneto á Língua Portuguesa, como um glorioso e formoso idioma.


Havia luz pela amplidão suspensa
no azul do céu, vergéis e coqueirais...
e o Lácio, com fulgores divinais,
abrigava de uma virgem a presença...

Era um castelo de ouro, amor e crença,
que igual não houve, nem haverá jamais...
Onde os poetas encontraram ideais
na poesia nova, n'alegria imensa...

A virgem era a Língua portuguesa,
a mais formosa e divinal princesa,
vivendo nos vergéis de suave aroma!

Donzela meiga que, deixando o Lácio,
abandona os umbrais do seu palácio,
para ser de um povo o glorioso idioma!
[...]

Através do conhecimento de nossa língua - base cultural do nosso povo, podemos fazer melhorias ao nosso país, portanto devemos aplaudir um projeto tão grandioso e espetacular como o Museu da Língua Portuguesa. E esperarmos que o povo de o valor merecido ao local.


Minha homenagem ao segundo ano do museu da Língua Portuguesa!

7 comentários:

Carolina Pera disse...

Agora deixe aqui sua opinião sobre o texto, ou então, sobre o museu.

Anônimo disse...

Bravo! Realmente, é tudo isso. O Museu deu tão certo, que o que seria uma exposição provisória sobre Guimarães Rosa, se tornou permanente...Uma homenagem mais do que justa a nossa cultura e amada Língua Portuguesa.Nestes dois anos, além de Guimarães, o Museu homenageou Clarice Lispector e, atualmente, Gilberto Freire.Vale muito a visita!!!

Anônimo disse...

nossa!!!!!
Muito boa essa dica de cultura, vou conferir todas essas informações de perto.

Um beijão

Yvette Centeno disse...

Clarice Lispector, a musa da modernidade da língua portuguesa.
Descobri a sua obra aos vinte anos, não a vejo estudada, reeditada, ela faz sombra ao sol dos contemporâneos !

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Que belo texto "O Olhar Te Cega",o culto está de parabéns.

Unknown disse...

Ual!
Que texto bem elaborado!
Ótima dica!
Espero que esse museu seja bem aproveitado, tanto pelas escolas, faculdades, como também pela população em geral, em pró da nossa querida língua (muitas vezes esquecida e banalizada) portuguesa.
Beijão.