domingo, 30 de março de 2008

sexta-feira, 28 de março de 2008

O olhar te cega!

Somos instintivamente adaptados e ensinados desde o nosso nascimento a entender a realidade humana por meio de um dos nossos cinco sentidos: o da visão. A arte de olhar.

Porém, poucas pessoas percebem que o mais importante é “invisível aos olhos” e que, na verdade, os olhos são poderosos enganadores e funcionam como um filtro para o nosso interior. A idéia que fazemos da realidade nos permite construir, sonhar e distorcer. O real constitui-se pela razão e pela emoção, não existe de fato um único conceito de realidade, mas sim um ponto em comum em todas as relações humanas.

É a partir daí que se pode citar o Ensaio sobre a cegueira de José Saramago. Um romance absolutamente profundo e sensível que nos faz parar para pensar se o que realmente enxergamos é ilusão, ou a mais dura realidade fruto de um caos social. O livro trata de uma súbita e inexplicável epidemia de cegueira que guia o leitor para uma desorganização e perda dos fatores básicos de civilização.
A realidade é aquilo que os nossos olhos captam e o nosso cérebro interpreta.

Não é possível acreditar na razão se os sentidos provarem o contrário. É o tal do “ver pra crer”. Mas e quando não é possível ver? De que são formadas as idéias? É aí que os outros demais sentidos vão além, ressalta-se o tato, o olfato, o paladar e a audição.

Em paralelo ao livro e como forma da mais original confirmação dessa realidade, utiliza-se o documentário Janela da Alma de João jardim e Walter Carvalho que relata, por meio de dezenove depoimentos de pessoas com diferentes graus de deficiência visual, maneiras de ver o outro e suas percepções de mundo. Pelo título do filme, nota-se que os diretores pensaram grande, já que aludiram à frase de Leonardo da Vinci: “O olho é a janela da alma, o espelho do mundo”.

-Talvez os cegos entendam mais de si e dos homens por serem os únicos obrigados a olhar apenas para dentro. É aí então que se encontra toda peculiaridade da realidade desconhecida por aqueles que enxergam, porque enxergar cega.

O documentário trata de um assunto abstrato sem barreiras de subdesenvolvimento ou qualquer questão social. Fala da cegueira física. Diversos casos, diferentes adaptações ao problema e distintas noções da realidade. A cegueira física de nascença provoca curiosidade. Como é possível construir uma realidade se nunca se enxergou para se ter um parâmetro de como ela é? E as cores, texturas e formas? Como são se nunca foram?

A concepção de cegueira é relativa, pois muitos que enxergam na verdade nada vêem. É este o conceito trabalhado por Saramago - uma humanidade constituída pelos que são obrigados a confiar um nos outros quando o principal sentido físico os deixam, a visão.

Será mesmo preciso perdermos o espelho da alma para que enxerguemos o que esta ao nosso redor? A esperança tem de ficar por conta da janela da alma que sobrepõe o sentir e o reparar ao mero olhar.

sábado, 22 de março de 2008

2 anos de língua portuguesa!

[...] Quando cheguei em São Paulo, em 1949, pela primeira vez,
aos seis anos de idade com minha mãe, na Estação da Luz,
Contei os bondes que passavam ininterruptos pela praça em frente e fiquei, menino,
Admirado com a quantidade dos que circulavam abertos, com passageiros,
o cobrador no estribo,
Dos que fechados, Camarões chamados,
continham formas mais compostas,
indistintas e distantes formas guardadas na proximidade de fatos e acontecimentos passados [...]


Poesia de Antonio Cícero publicada no livro “A Cidade e os Livros”, fala de um menino que vem de Ribeirão Preto pela primeira vez a São Paulo e como acontecia com os imigrantes que vinham de trem proveniente do Porto de Santos, o local onde primeiro se pisava era a Estação da Luz.

Estação essa que poderia ser chamada de estação de misturas de línguas, já que lá havia o encontro de imigrantes e nativos trazendo miscigenação dos sotaques, mistura essa que era e continua sendo intensa, pois atualmente a “Luz” recebe sotaques de todas as regiões do país. Não haveria melhor lugar para se implantar o Museu da Língua Portuguesa.

Situado na parte superior da plataforma da “Luz”, prédio inaugurado em 1901 pelos ingleses para levar a produção das lavouras do interior ao porto no período do ciclo do café - funcionava como escritório da companhia férrea, o museu vem cumprir um papel fundamental na cultura do povo, tanto no Brasil quanto em outros lugares onde o português está presente.

A mensagem contida no museu é que essa língua portuguesa que unifica um país do tamanho do Brasil é a forma de expressão de uma cultura rica e diversa que carrega consigo uma mensagem singular em meio ás nações.

Iniciativas como do Museu da Língua Portuguesa enaltece a cultura nacional. Pois as carências do país nesse campo são: falta de conhecimento das pessoas em relação à própria linguagem do país, das obras clássicas produzidas por autores como Guimarães Rosa, dos valores da nossa cultura e da civilização que criamos, e a partir desses conhecimentos podemos ter uma identidade brasileira, impedindo que outros povos e culturas que se sentem superiores interfiram em nossa identidade.

Isso faz com que o povo veja qual o valor da nossa cultura e não se deixe levar pela cultura de terceiros, acreditando no próprio povo brasileiro, e vendo que com essa crença é possível fazer maravilhas.

Em um jogo sensorial mágico, o projeto mostra a antiguidade da língua portuguesa, sua universalidade e mestiçagem de uma forma única, que nunca se viu até então, sendo pioneira na arte de mostrar essa linda língua de uma forma didática, clara e ao mesmo tempo prazerosa e interessante.

Considerado um ponto de encontro entre a língua, literatura e história, o Museu tem uma tecnologia de última geração para distribuir cultura de um modo especial, é a tecnologia usada em pró da cultura, valorizando nossa língua, que é uma das mais faladas no mundo.

Muitos ao ouvir sobre o museu, pensam ser este um lugar tedioso por falar da língua portuguesa, mas ao visitar este lugar dinâmico e interativo vêem que é o contrário, pois o local trata da base da cultura brasileira- língua portuguesa- de maneira sensorial e subjetiva, deixando o passeio suave e cativante.

Português, uma língua tão rica. Esse local nos faz refletir sobre essa riqueza, nos faz conhecer aspectos da nossa cultura embutidos na língua que vemos, falamos e escrevemos, mas que não sabemos e nunca percebemos que há, pois são aspectos ocultos.

A obra é uma realização do Governo do Estado de São Paulo e a Fundação Roberto Marinho, com parcerias de outras empresas e tem como alvo a população brasileira de todas as regiões e faixas sociais.

Uma iniciativa do Estado muito apropriada que dá acesso a informações tão preciosas contidas no museu.

Outra grande preocupação do museu é a de gerar produtos educacionais, como monitorias para escolas e oficinas de capacitação de professores, pois o museu ensina muita coisa, tanto aos alunos quanto aos professores, e esse local pode ser utilizado como fonte de educação diferenciada pelas escolas.

Uma viagem por poesias, poemas e textos que começam no térreo com a Árvore da Língua, que tem suas raízes formadas por palavras e sua folhas por contornos de objetos, possuindo ainda uma espécie de mantra que trabalha com as palavras "língua"e "palavra" em vários idiomas.
Esperamos que depois de uma iniciativa como essa, a língua portuguesa jamais seja esquecida, e que possamos reverter o quadro citado em uma poesia de Olavo Bilac, chamada Língua Portuguesa, que utiliza os termos inculta, desconhecida e obscura referindo-se a nossa língua portuguesa; fazendo com que essa seja entendida e conhecida, não mais obscura e desconhecida, pois a última flor é a língua portuguesa, considerada a última das filhas do latim, a qual não podemos deixar ser esquecida, pois é bela.


Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
[...]


Devemos sim tratar a nossa língua como nos versos de Waldin de Lima em Soneto á Língua Portuguesa, como um glorioso e formoso idioma.


Havia luz pela amplidão suspensa
no azul do céu, vergéis e coqueirais...
e o Lácio, com fulgores divinais,
abrigava de uma virgem a presença...

Era um castelo de ouro, amor e crença,
que igual não houve, nem haverá jamais...
Onde os poetas encontraram ideais
na poesia nova, n'alegria imensa...

A virgem era a Língua portuguesa,
a mais formosa e divinal princesa,
vivendo nos vergéis de suave aroma!

Donzela meiga que, deixando o Lácio,
abandona os umbrais do seu palácio,
para ser de um povo o glorioso idioma!
[...]

Através do conhecimento de nossa língua - base cultural do nosso povo, podemos fazer melhorias ao nosso país, portanto devemos aplaudir um projeto tão grandioso e espetacular como o Museu da Língua Portuguesa. E esperarmos que o povo de o valor merecido ao local.


Minha homenagem ao segundo ano do museu da Língua Portuguesa!